Em meu último texto – Orientação e Navegação I, Cartas Topográficas – discuti a importância de nos mantermos “orientados” ou “localizados” durante qualquer atividade ao ar livre e com isso, introduzi o assunto sobre cartas topográficas. Apresentei seus principais tópicos como legenda, escala e a curva de nível. Contudo, existe uma outra informação contida nestas cartas de extrema importância: a UTM ou Universal Transverse Mercator (Sistema Universal Transverso de Mercator).
A UTM é um sistema de projeção cuja função é indicar as coordenadas geográficas. Ela é semelhante ao tradicional método de latitude e longitude, porém ao invés de trabalhar com medidas em ângulos – graus, minutos e segundos -, a UTM trabalha com quilômetros e metros. Ela representa as posições horizontais (padrão planimétrico), ignorando as altitudes, ou seja, ela é projetada no plano terrestre, tratando a superfície do planeta como um elipsóide perfeita (mesmo sabendo que a superfície da terra contém variações que fogem da perfeição elíptica). Para tanto, Mercator dividiu o planeta verticalmente em sessenta fusos (como analogia, pense num gomo de mexerica) e horizontalmente em vinte “linhas” conhecidas como bandas de latitude.
A UTM funciona, portanto, como um sistema de “linhas e colunas” que ao se encontrarem mostram numericamente a nossa posição na carta topográfica. Um verdadeiro jogo de batalha naval !
Fusos e Bandas de Latitude de Mercator
Cada fuso abrange 6° de longitude e cada banda 8º de latitude. Porém, como a Terra não é uma elíptica perfeita, pois os pólos são achatados devido – em parte – ao movimento de rotação (força centrífuga), a banda acaba sendo limitada aos paralelos 84°N e 80°S. Este é o motivo pelo qual não se utiliza essa projeção nos extremos norte e sul do planeta. Mercator tomou o cuidado para não trabalhar com números negativos e, por esta razão, definiu como ponto de origem de cada zona UTM a intersecção da linha do equador com a do meridiano central do fuso. Neste sentido, o meridiano central de cada fuso é definido numericamente como 500.000 e a linha do equador como 1.000.000, desta maneira uma localização ao sul do equador e/ou a oeste da linha central do fuso nunca terá uma representação numérica baixo de zero. Observe que a posição UTM é sempre apresentada na seguinte ordem: número do fuso, letra da banda e um par de coordenadas.
Tomemos como exemplo a imagem abaixo. Note que a cidade de Nova Yorke, nos Estados Unidos, encontra-se na zona 18T, sendo o fuso 18 e banda T. Outro exemplo seria o sul da Argentina, região da Patagônia, cuja localização é zona 19F, sendo o fuso 19 e a banda F.
Coordenadas
Falta pouco para “fecharmos” de vez uma posição UTM na carta. O caminho a seguir é trabalhar com as coordenadas contidas na borda das cartas topográficas, formando assim um “grid” ou um “tabuleiro” como num jogo de batalha naval. Observe o mapa abaixo, Coxilha Rica 1:50.000, com o rio Pelotas dividindo os estados de Santa Catarina com Rio Grande do Sul, cujo fuso é 22 e a banda é J. Note que existem diversas linhas pretas “cortando” a carta, formando, justamente, o grid UTM. Essas linhas estão separadas a cada 4cm na carta que representam 2km no terreno (leia sobre escala no texto anterior).
Agora procure pelas coordenadas 22J 572000/6852000. Você irá encontrar o ponto logo ao sul (abaixo) da palavra “sul” de Rio Grande do Sul. Se trocarmos as coordenadas para 22J 564000/6852000 você irá encontrar a região conhecida como “Farrapos”, na grande curva do rio. Ali, existe um cume com 998 metros de altitude; qual seria a sua UTM? A resposta é 22J 564300/6852500, ou seja, o cume está a 300 metros da linha 564 e a 500 metros da linha 6852. Vamos inverter o exercício, agora procure pela coordenada 22J 570180/6850980, em qual lugar do mapa ela se encontra ? A resposta é na casa da Fazenda Cerquinha.
Pronto, agora que já discutimos as coordenadas UTM – além das informações contidas no texto anterior – chegou o momento de imprimir uma carta topográfica, preferencialmente de uma região conhecida por você, e ir à campo “brincar” um pouco.
Fique atento aos próximos textos, pois o assunto orientação e navegação é longo e logo mais teremos mais um capítulo desta história!
Boas aventuras.
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