Orientação & Navegação I – Carta Topográfica

Orientação é uma atividade que envolve mapas, cartas e instrumentos de medições como o GPS – Global Positioning System -, a bússola e o altímetro. Nos dias de hoje, todos necessitamos de uma certa noção de orientação, independentemente de seu objetivo; seja através do uso do GPS para não se perder nas cidades que não conhecemos, na escolha de rotas com menos trânsito ou até mesmo nas trilhas e montanhas quando nos aventuramos por aí. Com isso, o desafio é encontrar o melhor caminho, uma área de acampamento, um pouco de água para hidratar-se, frente às possibilidades existentes na área. E para tal, é necessário conhecer e entender como as cartas topográficas, aquelas que representam o terreno (topografia), funcionam. A sua compreensão é a mais importante habilidade de um navegador. O navegador deve ser apto a relacionar a sua localização no campo com a carta ou vice e versa, e seguir e escolher a rota conforme se movimenta pelo terreno.

A bússola é um instrumento de extrema importância, mas nunca deve ser colocada acima da habilidade de compreender as cartas topográficas. Acredite, é possível orientar-se apenas pela carta, utilizando a bússola e o GPS apenas como instrumentos de auxílio. Existem exceções à regra – claro! – como durante uma navegação noturna ou dentro de matas fechadas, pois nestas condições não é possível visualizar o terreno ao redor para compará-lo à carta. Se você pretende retornar pela mesma rota, vire-se com frequência para observar qual a “cara” do caminho durante a volta. Técnicas são essenciais, mas a verdadeira habilidade de um navegador é o bom senso. Olhe por onde anda, essa é a chave para nunca se perder. Ficando em contato com o mundo a sua volta e observando os detalhes por onde passa, a sua chance de chegar onde deseja e voltar será muito mais alta.

O Que é Carta Topográfica ?

A Cartografia pode ser definida como um conjunto de atividades científicas, tecnológicas e artísticas cujo objetivo é a representação gráfica, digital ou tátil da superfície terrestre. A representação gráfica da cartografia é feita pelos mapas e cartas. Um campo da cartografia é a Topocartografia, ou seja, a ciência aplicada na determinação da posição relativa de elementos e pontos de uma porção da superfície terrestre, bem como sua representação gráfica detalhada. Quando os mapas são elaborados baseados nesse campo da cartografia eles são chamados de cartas topográficas. Portanto, as cartas topográficas nos fornecem informações sobre o relevo do terreno, ou seja, suas configurações com todos os acidentes geográficos naturais ou artificiais. E como as cartas topográficas trazem elementos fundamentais àqueles que pretendem navegar, tornaram-se os mapas mais populares para a prática de atividades ao ar livre terrestre.

Imagem 1: exemplo de uma carta topográfica brasileira. Município de Luís Antônio – SP, 1:50.000. Fonte IBGE, 1971.

As cartas topográficas são divididas em padrões Planimétricos e Altimétricos. O planimétrico representa, através de projeções horizontais, as informações existentes na superfície terrestre, entre elas podemos citar a legenda e a escala. O padrão altimétrico, por sua vez, representa o terreno através de cotas ou distâncias verticais, tendo como referência uma projeção vertical, por exemplo, as curvas de nível.

Onde Encontrar Uma Carta Topográfica ?

Fique atento para a data de criação ou edição da carta. As cartas topográficas utilizadas no território brasileiro foram confeccionados, em sua maioria, pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – e pelo DSG – Diretoria de Serviço Geográfico do Exército -, nas décadas de 70 e 80 contendo, portanto, informações antrópicas de padrões planimétricos desatualizadas. Não é raro você encontrar uma estrada asfaltada no lugar de uma estrada de terra. Mesmo assim, a carta topográfica continua sendo uma ferramenta fundamental, já que modificações geológicas e geomorfológicas expressivas do padrão altimétrico no terreno levam milhares de anos para ocorrer. Em resumo, é difícil encontrar alterações nas curvas de nível do terreno numa carta topográfica.

No site do IBGE entre em Cartas e Mapas > Folhas Topográficas. No exército entre pelo site do BDGEx para criar um cadastro. Salve o arquivo em .pdf e leve-o até uma gráfica para imprimir num ploter. Peça ao atendente para não mudar a escala ou tamanho do arquivo, pois assim, ao usar uma régua sobre a carta (papel), você conseguirá navegar com a escala original.

Decifrando a Legenda

Todas as cartas são providas de legenda que oferecem muitas informações, além de diversos símbolos e cores. Seus significados são, de maneira geral, padronizados e nos ajudam a compreender e interpretar a carta. Cores preta e vermelha (imagem 2a) são associadas à alterações humanas como trilhas, linhas de alta tensão, escolas, etc. A cor azul é relacionada aos elementos da hidrografia e os diversos tons de verde à vegetação (imagem 2c). Note que alguns símbolos são muito parecidos uns com os outros e podem nos confundir como, por exemplo, trilhas e caminhos.

Imagem 2a: legenda da carta topográfica de Petrópolis – RJ, 1:50.000. Fonte: IBGE, segunda edição, 1969.
Imagem 2b: legenda da carta topográfica de Petrópolis – RJ, 1:50.000. Fonte: IBGE, segunda edição, 1969.
Imagem 2c: legenda da carta topográfica de Petrópolis – RJ, 1:50.000. Fonte: IBGE, segunda edição, 1969.

Outras informações contidas na legenda e que podemos observar correspondem à declinação magnética, à localização da carta no estado brasileiro, divisão administrativa entre municípios e estados, data de confecção, edição e impressão e muito mais (imagem 2b).

Para Quê Serve a Escala ?

A escala “descreve” a proporção matemática entre o mundo real e sua representação na carta. Como exemplo, vamos usar a escala de 1:50.000 da carta de Petrópolis acima (imagem 2b). Neste caso 1 unidade no mapa (papel) representa 50.000 unidades no terreno. Note que a unidade escolhida deve ser a mesma para ambos “os lados” da escala, ou seja, neste exemplo 1mm no mapa equivale a 50.000mm no terreno ou 1cm no mapa representariam 50.000cm no terreno e assim por diante. Contudo, indico utilizar como unidade da carta os centímetros – cm – e como unidade de terreno os quilômetros – km – ou metros – m – já que são unidades de nosso cotidiano e de fácil compreensão.

Assim, por regra de três, chegamos que 1mm na carta (papel) equivale a 50m no terreno. E que 1cm na carta, seriam 500m de terreno. Logo, se medirmos uma trilha na carta com a ajuda de uma régua e ela tiver, digamos, 5cm de comprimento, deduzimos que será necessário percorrer no terreno 2.500m, ou seja, 2,5km.

O Quê é Curva de Nível ?

Vamos imaginar que seja possível cortar em fatias horizontais e paralelas ao nível do mar uma montanha. Imagine, agora, que as bordas dessas fatias pudessem ser desenhadas num mesmo papel. Isso é, de maneira figurada, o que as curvas de nível representam: as “bordas” de mesma altitude daquela montanha. Elas são as linhas que os cartógrafos desenham nos mapas para representar a geografia e o terreno (topografia) daquela região e são uma medida de elevação sobre uma constante, o oceano. Assim, se uma curva de nível possui 20 metros sobre o nível do mar, deduzimos que todos os pontos em sua linha também possuem a mesma altitude.

Imagem 3: representação de criação, de maneira figurada, das curvas de nível. Fonte: Antônio Calvo e Paul Rosas, 2007.

Por definição, sabemos que:

  1. Duas curvas de nível nunca se cruzam;
  2. A curva de nível não se interrompe;
  3. A distância vertical entre duas curvas de nível é sempre a mesma;
  4. Quanto mais próximas as curvas de nível estiverem entre si, maior a declividade e quanto mais distantes, menor a declividade.

Encontre na legenda da carta o valor da equidistância (imagem 2b) entre as curvas de nível. É com esta informação que você saberá a diferença, em altitude (lembre-se, estamos falando de escala vertical), entre cada curva de nível. Agora encontre uma curva de nível em negrito, é nela que você verá a informação da altitude que a representa (corra o olhar para um dos lados desta linha até encontrar o número). Para conhecer a altitude das outras curvas de nível, basta somar ou diminuir o valor da equidistância entre elas.

Imagem 4: carta topográfica à esquerda e a sua representação em imagem 3D à direita. Fonte: ClassZone, 2006.

Terminologia e feições:

a) Crista – também chamada de “divisor de águas”, separa duas bacias hidrográficas adjacentes. É a região de menor declive para ascensão ao cume;

b) Cume– região mais alta do relevo. Uma mesma montanha pode ter mais de um cume;

c) Vale – é a parte mais baixa entre duas montanhas. Seu curso é normalmente acompanhado de uma drenagem;

d) Colo – parte mais baixa entre dois cumes de uma mesma montanha;

e) Declive suave – curvas de nível esparsas;

f) Declive acentuado – curvas de nível muito próximas.

Imagem 5: fonte IBGE, 2023.

E como dica final, escolha um local conhecido, leve o mapa e navegue por ele sem medo de se perder (afinal, você já conhece o lugar). Assim, irá aos poucos ganhando confiança antes de partir para uma aventura em trilhas desconhecidas.

Se você gostou deste texto, fique atento às próximas publicações. O próximo assunto será uma continuação deste tópico.

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Boas aventuras.

Antônio Calvo - Armazém Aventura
Antônio Calvo

Os passeios, cursos, palestras e workshop são ministrados por <a href="https://armazemaventura.com.br/antonio-calvo/" rel="noopener">Antônio Calvo</a>, apaixonado por atividades ao ar livre desde a sua infância quando participava do Grupo Escoteiro Guia Lopes - 39o em São Paulo. Antônio tem experiência em diversos esportes como montanhismo, caminhada, escalada, canoagem e até dog sladding (trenó puxado por cachorros). É formado em Educação Experiencial Ao Ar Livre pela Outward Bound Canada, Tonhão como é conhecido, também tem formação pela Associação Canadense de Guias de Montanha - ACMG. Possui certificação em resgate de montanha pelo COSMO - Corpo de Socorro em Montanha - e Wilderness First Responder pela Wilderness Medicine Institute da NOLS. Além de trabalhar como instrutor e guia de montanha - seu currículo passa pela Antártica, Rochosas, Andes, Mantiqueira - administra, em São Bento do Sapucaí - SP, a loja e agência de turismo de aventura <a href="https://armazemaventura.com.br/" rel="noopener">Armazém Aventura.</a> Trabalhamos em conformidade com as Normas Brasileiras de Turismo de Aventura - ISO e ABNT NBR - além de possuirmos CADASTUR.

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Os passeios, cursos, palestras e workshop são ministrados por Antônio Calvo, apaixonado por atividades ao ar livre desde a sua infância quando participava do Grupo Escoteiro Guia Lopes - 39o em São Paulo. Antônio tem experiência em diversos esportes como montanhismo, caminhada, escalada, canoagem e até dog sladding (trenó puxado por cachorros). É formado em Educação Experiencial Ao Ar Livre pela Outward Bound Canada, Tonhão como é conhecido, também tem formação pela Associação Canadense de Guias de Montanha - ACMG. Possui certificação em resgate de montanha pelo COSMO - Corpo de Socorro em Montanha - e Wilderness First Responder pela Wilderness Medicine Institute da NOLS. Além de trabalhar como instrutor e guia de montanha - seu currículo passa pela Antártica, Rochosas, Andes, Mantiqueira - administra, em São Bento do Sapucaí - SP, a loja e agência de turismo de aventura Armazém Aventura. Trabalhamos em conformidade com as Normas Brasileiras de Turismo de Aventura - ISO e ABNT NBR - além de possuirmos CADASTUR.

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